quarta-feira, 10 de junho de 2009

Por falar em Aguinaldo

Poucas foram as reapresentações de telenovela que mais fizeram sucesso no horário da tarde da programação “global” e um delas estamos acompanhando neste momento. Não sei como acontece a escolha da trama que irá ser exibida em “Vale à Pena Ver de Novo”. Vejo muita gente reclamar que eles acabam colocando uma telenovela recente e esquece os grandes sucessos marcantes de décadas passadas. Acredito ser uma questão de coerência. Acho que iríamos estranhar culturas, idéias, pensamentos e trajes de um tempo que não faz mais parte de nosso universo habitual e contemporâneo. “Senhora do Destino” (2004) tem ocupando o ranking do terceiro programa mais visto neste mês de maio, mas por conta de “problemas” com a sua classificação etária, corre o risco de ser tirada do ar por estes dias (vamos fazer uma campanha: Ver “Naza” é preciso!). O que tem ela de diferente? Não sei, mas parei para pensar!

A causa está, acredito, em ter duas grandes fortes atrizes nos papéis principais, com personagens muito bem construídos, em dois papéis muito bem pontuados pelo autor, Aguinaldo Silva. Todos amam e odeiam Nazaré Tedesco (Renata Sorrah), a “Naza“, e se compadecem com o sofrimento de Maria do Carmo (Suzana Vieira). Essa seria a minha hipótese, já que contar história de filhos roubados e desconhecidos, nordestinos que saem de sua cidade e vão ganhar a vida no Sul, "favelados" e tantas outras coisas são temas recorrentes, inclusive pelo próprio Aguinaldo (dá para entender um pouco ao ler rapidamente a sua biografia). Basta lembrar de “Pedra Sobre Pedra” (1992), história de amor, rivalidade e paternidade desconhecida entre a família Pontes (Lima Duarte) e Batista (Renata Sorrah) e a mais recente, “Duas Caras” (2007), que para muitos lembrou uma espécie de continuação de “Senhora do Destino”, por ter novamente a presença de um líder comunitário, construção de uma favela, escola de samba e disputa de poder.

Aliás, disputa de poder está entre um dos seus temas favoritos. O que marca de forma mais nítida a obra de Aguinaldo são as questões políticas e pitadas de humor pictórico. Suas tramas tem sempre um jeito de fazer pensar nos políticos corruptos que elegemos: o prefeito de Tubiacanga, Démostenes Massaranduba (José Wilker), de “Fera Ferida” (1993); deputado Pitágoras Mackenzie (Ary Fontoura), em “A Indomada” (1997); e o corrupto Félix Guerreiro (Antônio Fagundes), em “Porto dos Milagres” (2007). A comicidade está no realismo fantástico visto em Jorge Tadeu (Fábio Júnior) e o mito do seu renascimento através de uma flor, no menino excepcional Emanuel (Selton Mello) que virou anjo ao nutrir um amor pela jovem Grampola (Carla Muga) e, claro, o mistério do “Cadeirudo”, que reservava bons momentos de humor no enredo. Marcas que até poderíamos arriscar em chamar de autorais, se não fosse uma obra construída de forma coletiva.

Aguinaldo está novamente em pauta e garante o seu lugar na emissora, mesmo residindo em Portugal, ao promover um Master Class para a formação de novos roteiristas. Em seu blog, ele conta passo a passo desse processo e garante que, se a Globo não aceitar o roteiro escrito por eles, de título "Marido de Aluguel", ele oferecerá para outra emissora (leia-se Record?). Obviamente, a Globo já se comprometeu a fazer uma avaliação e tem pensado em sua produção, já que, pelo rodízio, ele está na lista dos próximos autores a ocupar o horário das 20h. Seria uma prova de quem tem a coroa tem sempre um lugar no reino??

Não podia deixar de dar esse presentinho...a cena do embate: