quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Rebu, promessa e sombras

Em 04 de novembro de 1974, Bráulio Pedroso estreava mais uma telenovela que marcaria época na história da teledramaturgia brasileira. O autor de Beto Rockfeller, que modificou a forma de se fazer telenovelas no país, inovou mais uma vez no roteiro com uma trama que se passa em 24 horas, tendo três tempos diferentes e dois mistérios: “quem morreu?” e “quem matou?” na festa do milionário Conrad Mahler.

Um roteiro tão complexo, que lidava com os mistérios e com as três linhas do tempo, era tão ousado para a época que quando a série norte-americana Lost fez a mesma coisa nos anos 2000 foi apontada por especialistas como uma inovação na estrutura narrativa.

O Rebu teve diversos pontos positivos e a capacidade de Bráulio Pedroso de embasar sua trama foi impressionante, tanto que só foi revelada a identidade do morto no capítulo cinquenta. E seu assassino, no último, em um total de 112 capítulos.

Na realidade, o corpo que boiava na piscina desde o primeiro capítulo (em uma referência clara a Crepúsculo dos Deuses) era de Sílvia, personagem de Bete Mendes. E a explicação da vestimenta que parecia ser de um homem é explicada em determinado momento da festa, quando as mulheres começaram a brincar de cortar o cabelo e vestir terno. Já seu assassino foi o próprio anfitrião Conrad, interpretado por Ziembinski.

O Rebu se tornou uma lenda, principalmente após um incêndio na Rede Globo levar seus capítulos, deixando apenas os comentários e curiosidades nos registros de quem teve a possibilidade de vê-la. E agora, retorna em um remake mais curto, com 36 capítulos previstos e algumas alterações que vão desde a mudança de sexo dos protagonistas até a retirada do mistério “quem morreu?”.

O primeiro capítulo empolga os mais céticos. Com direção e fotografia primorosas e uma direção de arte cuidadosa, a construção estética da trama é impressionante. Tudo funciona de uma maneira envolvente.

A primeira cena com diversos planos detalhes dos convidados ao som de Santa Esmeralda (Don't Let Me Be Misunderstood) já demonstra um cuidado diferenciado. A fotografia azulada, a construção dos detalhes, a música que vai crescendo, e embarcamos em um plano sequência pela casa, tudo para passar a sensação do clima da festa e criar o impacto inicial do nosso primeiro contato.

O elenco também se destaca, com grandes nomes como Patrícia Pilar, Tony Ramos, Cássia Kiss, José de Abreu, Sophie Charlotte, Daniel de Oliveira, isso só para citar alguns. Todos parecem afinados e completamente entregues aos personagens. As cenas demonstram veracidade, com destaque para o momento em que a personagem de Sophie Charlotte canta uma música de Roberto Carlos e podemos ver as reações de Patrícia Pilar e Cássia Kiss. A construção da emoção das duas em relação ao que aquela atitude significa é muita boa.

Vendo apenas o primeiro capítulo, ou episódio, como a própria Rede Globo anunciou, o que traz outras questões interessantes que não cabem neste texto, é de que é um produto de qualidade. Mas, o fato de ter sido revelada a identidade do morto já nos primeiros momentos da trama, acabou tirando um pouco da força inovadora do roteiro. Ainda mais nos tempos atuais em que já vimos diversos “quem matou?” povoando nossa teledramaturgia.

Tirar o “quem morreu?” não é tirar apenas a “cereja do bolo”, mas é mexer completamente na estrutura do mistério que será construído nos 36 capítulos. George Moura, responsável pela adaptação, não precisará lidar com tantos detalhes da construção narrativa e a forma de jogar com o público será limitada aos motivos de quem tinha interesse em matar o jovem Bruno Ferraz. Isso acaba empobrecendo a complexidade, mas não significa que o roteiro não tem cuidados que mereçam atenção.

Traçando um paralelo com a original, Bruno ocupa a mesma função dramática de Sílvia, personagem de Bete Mendes, o que nos levaria a suspeitar da personagem de Patrícia Pilar. Para deixar a situação mais complexa, ao final do primeiro capítulo, a empresária Ângela Mahler se torna alvo de um revólver. Diversas possibilidades se abrem, até a de que o rapaz foi morto por engano como já vimos na telenovela Vale Tudo.

De qualquer maneira, é cedo para qualquer veredito em relação à qualidade ou não do roteiro. Com o primeiro episódio dessa instigante trama, temos apenas indícios de que se não será algo tão especial quanto o produto original, pelo menos temos a promessa de qualidade.

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